Quais as alterações dentárias que sentimos com a idade?
O significado de ENVELHECIMENTO, nos seres humanos, é um processo de desgaste do corpo (ou das células), depois de atingida a idade adulta. As causas do envelhecimento ainda não totalmente conhecidas pois existem teorias que justificam os envelhecimento com o acumular de danos (por exemplo, mutações no DNA) que levam a um aumento de falhas do organismo. Outras teorias propõem que o envelhecimento possa ser programado geneticamente.
O envelhecimento faz parte de um processo natural e deve ser considerado um fenómeno biológico e inevitável. Em Portugal, a esperança média de vida até 1960 era de 64 anos e em 2015 aumentou para os 81 anos. O envelhecimento leva a uma serie de alterações orais que podem prejudicar gravemente a qualidade de vida dos mais velhos.
O envelhecimento leva a série de alterações e mudanças no nosso corpo. Isso pode ser observado nas linhas do rosto e da pele, na diminuição da nossa capacidade elástica bem como na nossa capacidade de rapidez a efectuar uma actividade. Assim sendo a nossa boca não vai passar ao lado do processo de envelhecimento e o risco para aparecimento de doenças gengivais, cáries e perda dentária aumenta.
Na medicina dentária estética temos de ter em conta não só o desejo por parte dos pacientes de terem uma aparência mais nova mas também os efeitos do envelhecimento devem ser tidos em conta na analise estética. Os efeitos do envelhecimento manifestam-se não só nos dentes e tecidos periodontais bem como nos lábios e nos tecidos moles envolventes. A tónus muscular da musculatura em redor da boca vai diminuindo ao longo do envelhecimento, e estas variações vão alterando a estética continuamente.
O lábio superior com o envelhecimento vai ficado mais longo, descaindo, o que faz com que a exposição dos dentes superiores vá diminuindo durante a fala. A proporções da exposição dentária através do lábio superior e inferior vão variando com a idade, ou seja, a exposição dos dentes superiores diminui e dos dentes inferiores aumenta.
A expectativa por parte dos pacientes ficarem com uma aparência mais nova é que leva a procurarem tratamentos dentários estéticos e fazerem “liftings” no seu sorriso.
Desgaste Dentário
Os dentes são incrivelmente fortes mas não são indestrutíveis. Uma vida a mastigar leva ao desgaste da camada externa de esmalte e aplana as cúspides dos dentes.
As superfícies dentárias também são afetadas pela exposição a alimentos ácidos, como cítricos e bebidas gaseificadas, que dissolvem o esmalte protetor. O esmalte desgastado pode preparar o cenário para problemas dentários mais sérios. Uma fenda ou ruptura na superfície externa do dente deixa o dente mais vulnerável a irritação e inflamação e podendo levar no limite à perda de dentes.
Medicamentos, boca seca e cáries
Muitas pessoas tem a ideia que a doença da cárie só afecta as pessoas mais jovens. A presença de cáries em adultos de idade mais avançada pode não estar directamente relacionado com maus hábitos de saúde oral.
Muitas vezes essas doenças cariogénicas estão relacionada com a toma diária de medicamentos para doenças crónicas. Muitos desses medicamentos causam xerostomia (boca seca) criando um ambiente ideal para a proliferação bacteriana responsável pelas doenças cariogénicas. No entanto os problemas de boca seca resultam também de alterações das glândulas salivares e da secreção salivar que diminui com o envelhecimento e os idosos também bebem menos água o que reduz a produção salivar.
A falta de saliva é mais do que apenas desconfortável pois torna a ingestão e a ingestão difíceis, provoca mau hálito e causa irritação e infecção dos tecidos bucais. Também aumenta o risco de doença das gengivas e de cáries dentárias.
As formas que existem de controlar a xerostomia é através de um ajuste na dose da medicação ou mesmo alteração da mesma (mediante orientação médica), beber mais água, e usar saliva artificial. Nestes casos recomenda-se a colocação de selantes por forma a proteger os dentes da cárie.
Doenças gengivais no envelhecimento
As doenças gengivais têm uma maior prevalência em pessoas mais velhas. Cerca de 70% da população com mais de 65 anos apresenta de alguma forma doenças gengivais que pode ser de forma leve a grave. Um tratamento eficaz pode reverter esta situação. O tratamento mais adequado vai depende da gravidade da doença gengival. Alguns pacientes recuperam após uma higiene oral profunda, enquanto que outros pacientes necessitam de opções cirúrgicas como enxertos de gengiva ou enxertos de osso.
Perda dentária
A perda de dentes está geralmente associada ao envelhecimento. Apesar de as pessoas mais velhas terem maior perda de dentes e serem mais propensas a ter tratamento com implantes ou próteses dentárias, não existe nenhum motivo para que uma pessoa perca os dentes aquando envelhece.
Uma das razões pelos quais as pessoas são mais propensas a perder dentes à medida que envelhecem é porque os dentes vão-se tornando menos sensíveis. A polpa do dente (onde se encontra a enervação do dente) vai-se tornando menor sendo menos habilitada a originar dor devido à presença de cáries ou doenças periodontais. Muitas vezes estas situações só são detectadas tardiamente levando à perda dentária.
Felizmente, hoje em dia é bem mais fácil evitar a perda dos dentes, tendo hábitos de higiene oral e fazer consultas de medicina dentária com a frequência necessária. As soluções actuamente disponíveis para resolver as perdas de dentes, os implantes dentários, são bastante mais confortáveis e naturais do que as existentes no passado.
Fumadores e o envelhecimento
Fumar faz com que uma pessoa tenha uma probabilidade aumentada de sofrer doenças periodontal e outros problemas de saúde oral tais como cancro oral. Os fumadores actuais com mais de 65 anos tinham em média pouco mais de 15 dentes, enquanto que os não fumadores com mais de 65 anos têm uma média de 19 dentes. Perto de 50% dos actuais fumadores acima dos 65 anos não tem dentes naturais.
Na minha visão pessoal o médico dentista deve estar habilitado a a identificar qual o melhor plano de tratamento e quais os pontos mais importantes do mesmo e qual a sua ordem por forma a obter os resultados estéticos pretendidos. Se existir um fosso enorme entre o clinico e as espectativas e desejos dos pacientes em termos estéticos pode ser colocados em causa procedimento irreversíveis nos dentes e nos tecidos periodontais, sendo importante as decisões serem tomadas em conjunto por forma a estarem os dois na mesma linha de pensamento.